quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O PIG e a imprensa gaúcha


No Rio Grande do Sul, temos uma imprensa que atua de modo militante e conservador desde a saída da Ditadura. Pode-se afirmar, por exemplo, sem correr o risco de estar dizendo um absurdo, que a RBS, tendo a frente o jornal Zero Hora, como uma espécie de comitê central de campanha, já elegeu dois de seus quadros para o governo estadual. Primeiro, Antônio Britto (PMDB), em 1998. Depois, Yeda Crusius (PSDB), em 2006. A unir os dois governos tivemos a mesma orientação privatista, concentradora e modernizante que a esquerda gaúcha tanto combateu como neoliberal.

De fato, Britto e Yeda saíram do anonimato trabalhando nos veículos da RBS. Construíram-se e foram construídos como quadros da empresa. Projetaram-se politicamente nas páginas e nas ondas de rádio e TV do grupo. Além de erigir os dois governadores de perfil nitidamente privatista, o grupo, num certo sentido, também teria sido responsável pela derrota do governo Olívio Dutra (PT) e auxiliado decisivamente Germano Rigotto (PMDB) como alternativa ao PT em 2002.


O PIG no RS é PIM


Principalmente por isto, ou seja, porque no Rio Grande a presença da imprensa na cena política vem de décadas, confesso que demorei a entender a expressão "PIG" - Partido da Imprensa Golpista, popularizada por Paulo Henrique Amorim, entre outros. E ainda estou em desacordo com ele.

O termo é moda e já virou até verbete na Wikipedia. Conforme lá consta "é utilizado de forma genérica e pejorativa para se referir ao jornalismo praticado pelos grandes veículos de comunicação do Brasil, que seria demasiadamente conservador e estaria tentando derrubar o presidente Luis Inácio Lula da Silva e membros de seu governo de forma constante." Este fenômeno, baseado no que se lê ultimamente, teria por base a crise dos partidos políticos e da política de um modo geral. Os veículos estariam passando a ocupar o vazio deixado pelos partidos em crise, sendo eles próprios partidos ou fazendo às vezes de partidos.

Meu desconforto com o PIG tem raízes regionais. Não existe novidade em ter uma imprensa que atua politicamente e de forma conservadora no Estado. Isso sempre foi assim. O novo, como já comentei há algumas semanas, é que grupos distintos da mídia gaúcha estão tendendo a uma posição única, particularmente no que diz respeito às denúncias de corrupção no governo Yeda. Mas isso não é PIG - isso é só unidade de classe, fechamento de posição, defesa dos seus. Um movimento inusitado, sim, mas eu diria até compreensível. No Rio Grande do Sul, de fato, o que move a mídia não é um espírito golpista. O que move a RBS e os grupos menores é o medo de que Lula e Tarso sejam vitoriosos e o processo de democratização da comunicação se acentue, atingindo seus interesses regionais.


Olhando desse modo, a imprensa gaúcha está mais para PIM (Partido da Imprensa com Medo) do que para PIG. Capisco?


Os pingos nos is

Por outro lado, olhando o cenário nacional, sinceramente não vejo onde a imprensa brasileira tenha mudado para passar a ser condenada como golpista. Conservadora, sim, ela sempre foi. Sempre que teve interesses contrariados, atuou politicamente e tratou de colaborar para a derrubada de presidentes e governos. Por que agora considerá-la golpista? Ou ela sempre foi golpista, ou é um erro, um equívoco deseducativo utilizar agora o termo.

A mudança havida, real, no cenário nacional, é o sucesso do governo Lula. Além de ser um governo com posições opostas às dos grupos que dominam a mídia, é um governo bem sucedido que está democratizando as verbas na comunicação. Ou seja, é um governo que está mexendo onde dói no ser humano: no bolso dos bacanas da mídia.

Junte-se a isso o crescimento exponencial da internet (que também retira poder da mídia tradicional) e temos aí um quadro novo: o desvario da mídia não se deve a ela estar substituindo os partidos, mas sim ao fato dos seus partidos não estarem mais conseguindo lhes dar proteção. A denúncia do PIG pode ser boa, e em geral politicamente justa. Pode revelar a total falta de compromisso dos grandes veículos com a ética da informação. Mas é preciso entender que, hoje, quanto mais a mídia mente, mais isso é sinal de desespero e perda de poder. Isso não é sinal de fortalecimento. É fraqueza.

De fato, se tivermos a compreensão de que a família Sirotsky tem posições fortemente "neoliberais, internacionalistas e modernas de direita", como defende um amigo meu, a RBS nunca teve no Rio Grande do Sul um correspondente político partidário alinhado com suas posições e foi obrigada a realizar sua própria defesa desde sempre. Viria daí sua veia "piguista" desde os anos 90. Contudo, estar agora, na prática, acobertando um governo considerado corrupto e incompetente pela maioria da população gaúcha não é um sinal de poder, mas uma prova de sua imensa fraqueza. Inversamente, o fato da mídia nacional estar combatendo Lula não é sinal de força - é demonstração de pavor e medo diante da mudança do país.


2010 vem aí


É complicado escrever coisas como essa, mas me cobrem. Em 2010, o papel da RBS no processo eleitoral gaúcho, diferente de todas as eleições até aqui, não será mais decisivo. Com a crise dos seus partidos e a democratização da comunicação propiciada pelas novas tecnologias, a RBS está se tornando apenas mais um ator no processo gaúcho. E um ator tão ou mais frágil que os partidos de seu arco político.


O quadro sucessório gaúcho está caminhando para a construção de um novo cenário, configurado não mais pelos setores que sempre dominaram a política no Estado, mas pela dinâmica dos novos agentes sociais emergentes no novo Brasil. Em volta de Porto Alegre, que sedia o governo Yeda Crusius (PSDB) e hoje é governada por José Fogaça (PMDB), existe uma legião de governos populares nas cidades periféricas da região metropolitana. A luta no Rio Grande do Sul em 2010 será entre o centro e periferia, entre a classe A e a classe C, entre a turma que frequenta a rua Padre Chagas em Porto Alegre e o povo que vibra e decide os destinos do Big Brother em suas casas nas periferias da capital.

domingo, 20 de setembro de 2009

Fogo no Rio Grande do Sul



Para ler o artigo no site da Carta Capital On Line, clica AQUI.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Imprensa gaúcha adere ao yedismo


Clica aqui para ler o artigo na Carta Capital. Faz dias que o artigo está lá. Até já saiu da capa. O debate dos leitores também é muito interessante.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Yeda vai à guerra em 2010

Nesta semana, a governadora gaúcha Yeda Crusius fez um nova reforma em seu secretariado. Foram substituídos quatro secretários. O objetivo da reforma seria duplo: de um lado, organizar o seu leque de alianças para tentar a reeleição em 2010; de outro, enfrentar a CPI que apura corrupção no governo.

(Para ler o artigo na Carta Capital, clica aqui)

Em 32 meses de governo, a tucana já alterou a composição do primeiro escalão 29 vezes. Esta última reforma privilegia o PP, partido que tem lideranças importantes envolvidas na corrupção do DETRAN. O PP já exercia a liderança do governo na Assembleia. Agora, ocupa também a chefia da Casa Civil, através de Otomar Vivian. Também foram substituídos os titulares das secretarias da Educação, de Governo e de Relações Institucionais. O PP saiu fortalecido duplamente.

Diante das últimas mudanças, um dos balanços nos bastidores do governo é que, invariavelmente, em todas as reformas, foram demitidos os secretários que não têm envolvimento ou relação com as denúncias de corrupção. Ao optar pelo PP como aliado estratégico, Yeda estaria apostando numa ressurreição com a ajuda dos progressistas que administram 147 das 496 prefeituras do Estado. Ao mesmo tempo, estaria se distanciando do PMDB, partido que até agora lhe deu sustentação e vinha anunciando um possível afastamento.

Para o PMDB, a atual reforma não poderia ser melhor. Yeda e seu "novo jeito de governar" se acantonam no espectro da direita conservadora do Estado. Todo o centro tende a ficar nas mãos do PMDB, e o PT pode se isolar no território da esquerda gaúcha outra vez. O PT já escolheu o ministro Tarso Genro como seu candidato, e o PMDB, que assim como o PP, têm 9 dos 55 deputados da Assembleia, oscila entre o ex-governador Germano Rigotto e atual prefeito de Porto Alegre, José Fogaça.

Nas últimas duas semanas, a mídia regional passou esforçando-se por minimizar e esvaziar a CPI da Corrupção instalada na Assembléia. Com uma relação de forças de 8 a 4 pró-aliados do governo, a tendência da CPI é ficar à deriva. É verdade que a governadora não está com esta bola toda, de forma que possa dar as cartas. A frente de um governo de conflitos, Yeda vem consolidando a imagem de pior governo que os gaúchos já tiveram.Mas Yeda acredita que a crise será superada até a eleição e pensa, com base nisso, disputar a reeleição.

Ao mesmo tempo que a CPI começou a ser taxada de "CPI do PT", Yeda passou a ter sua imagem retrabalhada. No final da semana, na Expointer, feira agropecuária realizada em Esteio, Yeda até chorou, emocionada por terem elogiado sua fibra para enfrentar as adversidades.