quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Maduro venceu a primeira batalha de 2014

Hoje o Jornal da Globo anunciou que o dia foi de manifestações a favor a contra o governo na Venezuela. Mostrou duas manifestações a favor do governo. Uma de mulheres em defesa das vítimas que foram mortas durante manifestações nos últimos trinta dias. Leitura de telespectador: a oposição está na lona, o governo está na ofensiva, com amplo (e pacífico) apoio popular.
Do ponto de vista do marketing, Maduro ganhou o dia. Talvez até esteja ganhando a guerra. Vamos ver os desdobramentos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Blog está parado, mas eu não

Se por acaso você está visitando este blog em busca de textos atuais, vá até a Carta Capital.

Faz tempo, coloquei minhas energias jornalísticas a serviço da Carta Capital On Line.

Lá, você vai encontrar o que tenho escrito mais recentemente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O carteado gaúcho na sucessão ao Piratini

Lula e Dilma passaram o final da semana pavimentando o terreno para a sucessão presidencial. Na prática, passaram um trator no pampa gaúcho. Para ler no site da Carta Capital clica aqui.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Rio Grande de desilusão


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Prezados leitores. O Daniel, meu editor neste espaço, pediu para fazer uma coluna de balanço do ano.

Confesso. Não consegui. Ou melhor: Na verdade, esta coluna é muito diferente de todas as que já escrevi neste espaço. Primeiro, porque não é uma coluna, é uma carta, quase um desabafo; segundo, porque não tenho muito o que dizer. Tenho, apenas, talvez, "à la Guimarães Rosa", algumas coisas a "desdizer".

Minha pauta na revista é tratar da cena política gaúcha. Acreditem: Não é uma tarefa fácil. Sou gaúcho, e ser gaúcho nos dias de hoje não é simples. Ser gaúcho vem se tornando todos os dias mais complicado. Analisar o cenário político é pior ainda. E, em 2010, tudo pode se tornar até mais difícil.

Todas as semanas no últimos meses tenho sido obrigado a refrear meu desejo de pedir ao Daniel para alterar minha pauta. Acordo sempre às segundas feiras desejando falar sobre o Brasil e o sucesso do governo Lula, sobre o Obama e o desafio de administrar a crise do império, sobre a América Latina e a afirmação de seu povo nos espaços públicos. Mas não. Tenho de tratar da cena gaúcha, e isso hoje é tratar da miséria da política, da pequenez, dos mais baixos instintos que quase sempre estão por detrás dos movimentos de hoje em dia no pampa.

Não. Não estou falando de ética ou de falta dela na política gaúcha. Este assunto, confesso, não é o que mais me preocupa. Penso, aliás, que o governo Lula conquistou avanços fantásticos neste terreno. "Nunca na história deste país" se viu tanto criminoso de colarinho branco tocando piano nas delegacias antes reservadas apenas aos bandidos pobres.

O problema é outro. Vivemos hoje num país que saiu da crise porque soube defender suas empresas, seu patrimônio, seu povo. Um país que aos poucos torna-se motivo de orgulho por todos lados. Ser brasileiro na Europa durante muito tempo foi sinônimo de ser trambiqueiro ou prostituta, no máximo jogador de futebol. Nos últimos anos, o país foi capaz de iniciar uma verdadeira revolução que hoje reposiciona o Brasil no mundo. O Rio Grande do Sul, não.

Também não estou falando de justiça social. Esse assunto hoje é domínio federal. E, justiça seja feita, "nunca antes na história desse país" se viu o povo sendo tão "justiçado" como está sendo agora. É Bolsa Família, Fome Zero, Minha Casa Minha Vida, salário mínimo que cresce, emprego que cresce, mais educação e até saúde. E isso, o Brasil está fazendo por todos, inclusive pelos gaúchos.

Estou falando é da falta de liderança, da incapacidade política dos gaúchos, da sua incompetência para tirar o Rio Grande da situação em que encontra. É lamentável, mas todos os indicadores são claros. O Rio Grande do Sul perdeu a onda do crescimento nacional. No Rio Grande do Sul, demos as costas a tudo o que de bom está sendo conquistado em nível nacional. Crescemos como rabo de cavalo. Para baixo, e para trás. E isso é culpa de todos os gaúchos que não conseguiram gestar nas últimas décadas lideranças capazes de enfrentar nossos problemas. Isso é culpa sua e é culpa minha. Acho que é por isso que não consegui fazer um balanço.

Quando Olívio Dutra foi governador, disseram que o problema era o PT. Tivemos quatro ano de PMDB e agora mais quatro de PSDB. Passamos quase oito anos sem o PT e o Estado só piorou. Alguns dizem agora que o problema todo é dos "serristas". O governo gaúcho, tendo a tucana Yeda Crusius à frente, está atolado na falta de ética. E esse seria o seu maior problema.... mas, acreditem, esse não é nosso maior problema.

A falta de ética na política gaúcha é apenas reflexo da mediocridade. Quando ladrões e achacadores se tornam "líderes" políticos, algo está muito mal. E o que está mal entre nós é a falta de liderança verdadeira, é a falta de política, a falta de grandeza.

Hoje, o Rio Grande do Sul está tão preso ao passado que, com tristeza e esperança, lembrei Drummond: "Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente."

sábado, 12 de dezembro de 2009

Pesquisas aceleram definições na cena gaúcha


Dezembro está sendo um mês de emoções intensas no Rio Grande do Sul. Quando ninguém mais esperava novos lances na definição do tabuleiro, dois fatos aparentemente desconexos alteraram a cena política.
De um lado, a luta interna no PMDB para definir um candidato para 2010 teve um desfecho favorável a José Fogaça. De outro, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Methodus indicou a vitória do ministro Tarso Genro em todos os cenários, no primeiro e no segundo turno.

O PMDB diante do óbvio
Até final de novembro, Fogaça vinha negando a candidatura. Pretendia deixar a sua saída da prefeitura de Porto Alegre para o prazo limite, de olho nos louros que um conjunto de obras e iniciativas (a maioria com recursos do governo federal, como as da Copa) poderiam lhe trazer. Mas Fogaça não aguentou a pressão. O xeque-mate que obrigou-o a sair da moita veio do próprio PMDB. O anúncio de Germano Rigotto dizendo não ser candidato a governador em nenhuma hipótese acabou “deixando o partido sob o risco de uma anomia”, nas palavras do próprio candidato.
Ou seja, o PMDB gaúcho, atravessado por um debate surdo entre o lulismo e os tucanos, deparou-se com o óbvio: a necessidade de ter um candidato em torno ao qual construir sua política para 2010. Teria sido o próprio senador Simon, presidente do PMDB no estado, que teria convencido o prefeito de Porto Alegre. A indefinição já começava a ser vista pelas bases como insegurança da cúpula e muitos, principalmente os prefeitos do interior, já ameaçavam engrossar as fileiras do ministro Tarso Genro, de olho nos cofres federais.

A pesquisa e suas limitações
Pesquisas a esta altura são apenas termômetro. Mas é exatamente isso que deve ter apavorado os peemedebistas. Pela pesquisa, o governo Yeda Crusius, até agora sustentado e blindado pelo PMDB, inclusive, é um governo reprovado por 64,6% dos gaúchos. E por maior que seja o esforço para tentar reconstruir sua imagem, Yeda não pára de produzir negatividades. A mais recente, depois de afrontar brigadianos e professores com um projeto na Assembleia que desmonta as carreiras e está levando os professores a uma greve, foi a revelação de que sua filha, sem renda para tal, também teria comprado uma casa. Ao mesmo tempo que esta percepção se torna irreversível, apesar da ampla e total cobertura da mídia, o governo Lula soma 67,2% de aprovação. A diferença, no caso do presidente, é que Lula sofre no Rio Grando do Sul uma campanha sistemática e cotidiana contra o seu governo, capitaneada pela mídia gaúcha.
Neste quadro desastroso para os tucanos e confortável para os petistas, o ministro Tarso Genro, que largou na frente e é pre-candidato a governador desde o primeiro semestre do ano, aparece em primeiro lugar em todos os cenários possíveis. Na menção espontânea, o ministro tem 11,1% dos votos e o prefeito de Porto Alegre tem 6,0%. A rigor, Fogaça empata com três outros nomes (Olívio Dutra, PT, 5,9%; Rigotto, PMDB, 5,8%; Yeda Crusius, PSDB, 5,2%) e, assim como seu adversário, encontra dificuldades para traçar um caminho seguro até as urnas em 2010.
Mas se Tarso aparece bem (com 32,9% contra 25,7% de José Fogaça no primeiro turno) e, pelas pesquisas de hoje, tendencialmente é o vencedor (ganha em todos os cenários de segundo turno, inclusive contra Fogaça, por 48,5% a 39,6%) a decisão do PMDB de fardar-se para entrar em campo acelerou o processo de definição das alianças.

A noiva em disputa
Pesquisas e pressão nos bastidores: estes foram os ingredientes para Fogaça mudar seu posicionamento. A pressão veio de todos os lados, mas principalmente do PDT.
Com o anúncio da candidatura de Fogaça, o PDT praticamente já assumiu a prefeitura de Porto Alegre. É um dezembro de café frio para o prefeito e tinindo para o vice, José Fortunatti, que deverá governar os próximos dois anos. Na lógica do senador Simon, o anúncio do nome de Fogaça tornaria natural o apoio do PDT à candidatura do atual prefeito a governador em 2010. Mas, passados alguns dias, de novo tudo pode acontecer, inclusive o PDT governar Porto Alegre e figurar na vice de Tarso Genro.
O PDT promete reunir-se dia 17 e definir sua posição. Internamente, haveria três possibilidades. Candidatura própria, Tarso Genro ou José Fogaça. Nesta semana que antecede o Natal, o líder do governo Lula na Câmara e um dos coordenadores da campanha do ministro Tarso, deputado Henrique Fontana, anunciava a intenção de apresentar ao PDT gaúcho uma proposta irrecusável. ///

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Zero Hora assume anti-lulismo


A imprensa gaúcha é hors concours. Na terça-feira 1, o jornal Zero Hora manchetou: “Porto Alegre registra o novembro mais chuvoso em cem anos”. Na capa, nem uma palavra sobre o Arruda e seus arroubos. A página de politica, sob o chapéu Inferno Distrital, anunciava que “Esquema de propina faz ruir governo Arruda”. (Para ler na Carta Capital On Line clica aqui.)

Na quarta-feira 2 o tema veio para a capa de ZH com uma manchete enigmática: “Mensalão no DF afeta alianças para 2010”. Logo abaixo, uma legenda ainda mais acobertadora dizia: “Gravações de suposta propina fazem partidos como o PSDB abandonarem o governo Arruda e ameaçam interferir no cenário eleitoral”. Já na Página 10, a colunista de política mais lida do estado, Rosane de Oliveira, manchetava que o presidente Lula possui “critérios elásticos” e estaria sendo condescendente com o governador Arruda....

Imagem não fala por si
Me preocupei. Afinal, será que Lula estaria mesmo sendo condescendente com a corrupção. Logo ele, que sempre disse que o assunto é para ser tratado na polícia e na Justiça. Fui verificar a entrevista. Para isso, o YouTube é fantástico. Assista aqui o trecho da polêmica. http://www.youtube.com/watch?v=mtAXeobIGgI&feature=player_embedded.

Veja que Lula disse exatamente o seguinte: “Vamos aguardar. Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação. Quando tiver toda a apuração, toda a investigação terminada, a Polícia Federal vai ter que apresentar um resultado final, um processo, aí anuncia. Aí você pode fazer juízo de valor. Mesmo assim, quem vai fazer juízo de valor final é a Justiça. O Presidente da República não pode ficar dando palpite, se é bom, se é ruim. Vamos aguardar a apuração.”

Na coluna da comentarista Rosane Oliveira, de Zero Hora, a afirmação de Lula virou em “as imagens não significam nada”. Como se Lula tivesse dito isso. Rosane, que em geral é ponderada, no caso, exagerou de vez. Segundo ela, no episódio, “ao dizer que as imagens não significam nada, Lula mostrou uma elasticidade preocupante do ponto de vista ético”.

Como o presidente não disse o que Rosane afirmou, fiquei aguardando uma retratação, um pedido de desculpas pela barriga, qualquer coisa. Esperei que no dia seguinte, quinta-feira 3, Zero Hora e Rosane de Oliveira retornassem ao leito da veracidade. Mas não: Zero Hora voltou às manchetes climáticas: “Jornada de transtornos” acima de uma foto de um ônibus na chuva. O tema Arruda mereceu apenas uma manchete secundária e quase sem significado para o leitor gaúcho: “Protestos e ações de impeachment isolam Arruda”.
Sexta-feira, dia 4, idem. Nem Rosane de Oliveira, nem seu jornal Zero Hora, deram qualquer explicação. Nem mesmo no blog da jornalista vimos qualquer alteração de linha.

Claro, o manual de redação do jornal Zero Hora recomenda tudo ao contrário do que foi feito. Mas parece que ultimamente, cada vez mais, manuais de redação são para serem contrariados....

O silêncio fala mais alto
Torço por estar errado, mas o silêncio de Rosane e do jornal podem significar um passo adiante na política do grupo RBS no Rio Grande do Sul. Ao longo dos últimos anos, Zero Hora e a RBS alimentaram diariamente o anti-petismo no Estado. Como o discurso do PT gaúcho está, vamos dizer assim, deixando de ser tão “petista” e se tornando mais “lulista”, Zero Hora, que durante algum tempo flertou com a possibilidade de colaboração com Lula (o presidente, antes ainda de 2002, chegou a ter coluna assinada no jornal) está mudando de posição. Faz meses, progressivamente o jornal vem repetindo de modo crescente os bordões do imprensa nacional. Mas agora, houve uma mudança. O jornal e Rosane se posicionaram: O alvo agora é Lula.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Rio Grande do Sul: um estado sem norte

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O atual cenário político no Rio Grande do Sul é de incertezas. Incertezas e confusão. Se até alguns meses se podia trabalhar com a idéia de um confronto entre o PT e o PSDB, entre Tarso Genro e Yeda Crusius, hoje há inúmeras possibilidades. Neste momento, a mais provável é o lançamento de várias alternativas, cada uma delas se apresentando aos eleitores gaúchos como a verdadeira portadora da ética, da justiça e do desenvolvimento.

Esta semana, foi a vez dos trabalhistas (PDT e PTB, mais o DEM) lançarem um balão de ensaio afirmando a possibilidade de candidatura própria por uma terceira via. Semana passada foi o PSB, com o deputado Beto Albuquerque, quem tentou colocar-se no partidor como alternativa.

No campo governista, a crise é tão grande que a agenda mínima possível é simplesmente não permitir que a governadora caia. Para isso, fez-se necessário um pacto de silêncio e proteção que faria inveja a máfia siciliana. Tal grau de proteção para Yeda Crusius só é possível porque existe um ambiente social que o permite. Ou seja, do ponto de vista eleitoral, Yeda não é carta fora do baralho e, se é provável que fique fora do segundo turno em 2010, também é possível que venha a ser decisiva no processo.

Se há conflitos intransponíveis na situação, por exemplo, entre a governadora e seu vice, na oposição o quadro não é muito diferente. Tarso Genro até agora conseguiu unificar o seu partido, mas convencer o PT gaúcho de que ele precisa abrir mão de posições para outras forças já são outros quinhentos. O resultado é que hoje o mais provável é que Tarso concorra sozinho no primeiro turno, e tenha de enfrentar antigos aliados, como o socialista Beto Albuquerque, o PCdoB e possíveis aliados mais recentes, como petebista Luis Augusto Lara, lançado candidato a governador pela sigla. Mas, claro, nada disso impede Tarso de sonhar em ser o próximo governador.

Análises mais rigorosas colocam o PMDB gaúcho no campo da direita. O eleitor, contudo, tem a memória do compromisso do MDB com a luta democrática e ainda hoje compreende os candidatos peemedebistas como alternativas de centro. Hoje, o velho MDB é o responsável pelo círculo de silêncio que garante a possibilidade de Yeda continuar governadora. Conudo, o PMDB, com José Fogaça, prefeito de Porto Alegre, ou Germano Rigotto, ex-governador, trabalha intensamente para retornar ao Palácio Piratini. No momento, tudo indica que Fogaça, numa inflexão pró-Serra, seja o candidato de centro “para derrotar o PT”.

Socialistas, capitalistas, petistas, pepistas, trabalhistas, liberais, comunistas, social-democratas e democratas – todos, todos no Rio Grande do Sul têm uma coisa em comum: estão sem norte.

Vamos ver o que povo diz

Caetano Veloso, entre seus arroubos de genialidade, tem um verso que considero chave para entender o país: “Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”. Escrito antes do desastre neoliberal, e muito antes do analfabetismo político confesso criticando nosso presidente (meu e dele, também), o verso faz parte de uma música que anuncia o novo/velho Brasil fora da ordem, “fora da nova ordem mundial”.

Fui entender de onde Caetano tirou essa idéia quando viajei pelo sul da Bahia há uns quinze anos. Na época, fiquei impressionado com a quantidade de construções populares abandonadas pela metade. Passando de cidade em cidade num ônibus pinga-pinga pude ver que na Bahia tudo era construção e já era ruína. Parecia que o povo fazia um enorme esforço, investia suas economias e sua energia num projeto, mas era obrigado a abandonar antes de chegar ao fim. Também lembro que o número de homens parados, conversando de manhã, de tarde ou de noite me impressionou. Nunca havia visto tanta gente reunida em grupos dispersos sem nada para fazer.

Recentemente voltei à Bahia. Vi muitas construções novas e não encontrei mais a paisagem da desocupação de quinze anos atrás. Encontrei uma Bahia “fora da nova ordem mundial” que soube, como o Brasil, fortalecer-se e superar-se diante da crise. Sinceramente, não sei se isso é corroborado pelos números frios da economia e das taxas de crescimento, mas a impressão que me ficou foi essa.

A ordem e a desordem em comum

Tudo muito diferente do Rio Grande do Sul. Quando o povo baiano lutava há quinze anos contra as ruínas, no Rio Grande do Sul montávamos sonhos de poder à esquerda, à direita e ao centro. O Rio Grande do Sul, em geral, prosperava fora da ordem brasileira. A cada período de quatro anos vínhamos e seguimos perseguindo a ordem e a contra-ordem mundial. Oscilamos entre alternativas neoliberais, socialistas e centristas com grande radicalidade, todas muito bem ordenadas ou contrárias à ordem.

Fizemos muito no Rio Grande. Mas não tivemos a capacidade que o Brasil teve de construir o novo, de superar padrões e conceitos. Ficamos aprisionados no pampa gaúcho aos velhos dogmas. A arrogância gaúcha – “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra”, afirma o hino do Estado – norteou todas as construções políticas do pampa. Quem não lembra de Leonel Brizola dando lições de política? De Pedro Simon ensinando ética? De Antônio Britto, defensor da cartilha privatista? Do PT de Porto Alegre, demiurgo do Orçamento Participativo e do Fórum Social Mundial?

Hoje, a desordem gaúcha, a falta de projeto e de comando, produz o mesmo que a ordem baiana sob ACM: confusão e atraso. Ainda não se vê grupos de “gaúchos a pé” na beira das estradas conversando, mas as rodas de chimarrão que ainda existem já são cada vez mais longas. E lentas.

O convencimento do povo gaúcho hoje é de que sua elite de direita, de centro ou de esquerda não possui ética. Que suas estruturas de poder – Estado, Detran, Tribunal de Contas, Prefeituras, etc, etc – estão corrompidas. E pari passo com o conjunto do povo brasileiro, o povo gaúcho não chega a ver grande problema nisso. O problema que o povo vê é que hoje o Rio Grande está tomado pela mediocridade, pela falta de iniciativa, pela ausência de projetos, pelo pensar rasteiro, pela política miúda.

O Rio Grande do Sul hoje é um Estado sem norte e suas lideranças batem cabeça tentando entender o que se passa, mas têm enorme dificuldade.

É neste cenário de incertezas em que a democracia (ou a falta dela) demonstra o seu valor. Por sorte, neste país que venceu a crise com a força do trabalho, hoje temos uma democracia razoavelmente sólida. E ano que vem, 2010, o povo gaúcho vai decidir o rumo que quer tomar. Eu, de minha parte, como Caetano, apenas digo que “não espero pelo dia em que todos os homens concordem. Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final”.

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OBS: Tive a inspiração para esse artigo lendo um texto do Emiliano José, Caminhos do Futuro, que se você ainda não leu eu recomendo.