segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Zero Hora assume anti-lulismo


A imprensa gaúcha é hors concours. Na terça-feira 1, o jornal Zero Hora manchetou: “Porto Alegre registra o novembro mais chuvoso em cem anos”. Na capa, nem uma palavra sobre o Arruda e seus arroubos. A página de politica, sob o chapéu Inferno Distrital, anunciava que “Esquema de propina faz ruir governo Arruda”. (Para ler na Carta Capital On Line clica aqui.)

Na quarta-feira 2 o tema veio para a capa de ZH com uma manchete enigmática: “Mensalão no DF afeta alianças para 2010”. Logo abaixo, uma legenda ainda mais acobertadora dizia: “Gravações de suposta propina fazem partidos como o PSDB abandonarem o governo Arruda e ameaçam interferir no cenário eleitoral”. Já na Página 10, a colunista de política mais lida do estado, Rosane de Oliveira, manchetava que o presidente Lula possui “critérios elásticos” e estaria sendo condescendente com o governador Arruda....

Imagem não fala por si
Me preocupei. Afinal, será que Lula estaria mesmo sendo condescendente com a corrupção. Logo ele, que sempre disse que o assunto é para ser tratado na polícia e na Justiça. Fui verificar a entrevista. Para isso, o YouTube é fantástico. Assista aqui o trecho da polêmica. http://www.youtube.com/watch?v=mtAXeobIGgI&feature=player_embedded.

Veja que Lula disse exatamente o seguinte: “Vamos aguardar. Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação. Quando tiver toda a apuração, toda a investigação terminada, a Polícia Federal vai ter que apresentar um resultado final, um processo, aí anuncia. Aí você pode fazer juízo de valor. Mesmo assim, quem vai fazer juízo de valor final é a Justiça. O Presidente da República não pode ficar dando palpite, se é bom, se é ruim. Vamos aguardar a apuração.”

Na coluna da comentarista Rosane Oliveira, de Zero Hora, a afirmação de Lula virou em “as imagens não significam nada”. Como se Lula tivesse dito isso. Rosane, que em geral é ponderada, no caso, exagerou de vez. Segundo ela, no episódio, “ao dizer que as imagens não significam nada, Lula mostrou uma elasticidade preocupante do ponto de vista ético”.

Como o presidente não disse o que Rosane afirmou, fiquei aguardando uma retratação, um pedido de desculpas pela barriga, qualquer coisa. Esperei que no dia seguinte, quinta-feira 3, Zero Hora e Rosane de Oliveira retornassem ao leito da veracidade. Mas não: Zero Hora voltou às manchetes climáticas: “Jornada de transtornos” acima de uma foto de um ônibus na chuva. O tema Arruda mereceu apenas uma manchete secundária e quase sem significado para o leitor gaúcho: “Protestos e ações de impeachment isolam Arruda”.
Sexta-feira, dia 4, idem. Nem Rosane de Oliveira, nem seu jornal Zero Hora, deram qualquer explicação. Nem mesmo no blog da jornalista vimos qualquer alteração de linha.

Claro, o manual de redação do jornal Zero Hora recomenda tudo ao contrário do que foi feito. Mas parece que ultimamente, cada vez mais, manuais de redação são para serem contrariados....

O silêncio fala mais alto
Torço por estar errado, mas o silêncio de Rosane e do jornal podem significar um passo adiante na política do grupo RBS no Rio Grande do Sul. Ao longo dos últimos anos, Zero Hora e a RBS alimentaram diariamente o anti-petismo no Estado. Como o discurso do PT gaúcho está, vamos dizer assim, deixando de ser tão “petista” e se tornando mais “lulista”, Zero Hora, que durante algum tempo flertou com a possibilidade de colaboração com Lula (o presidente, antes ainda de 2002, chegou a ter coluna assinada no jornal) está mudando de posição. Faz meses, progressivamente o jornal vem repetindo de modo crescente os bordões do imprensa nacional. Mas agora, houve uma mudança. O jornal e Rosane se posicionaram: O alvo agora é Lula.

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