domingo, 19 de abril de 2009

Disputa acirrada no Rio Grande do Sul (*)


Os primeiros movimentos da eleição para o governo do Estado do Rio Grande do Sul mostram que a disputa deverá ser eletrizante. Os principais nomes, ao mesmo tempo em que negam, entraram em campanha aberta nos últimos quinze dias. Yeda Crusius (PSDB), Tarso Genro (PT) e José Fogaça (PMDB) promoveram ações, cada um a seu modo, visando conquistar um melhor posicionamento na largada.

O vôo tucano

Yeda Crusius teve o governo com a pior avaliação entre dez no país na pesquisa Datafolha deste mês de março e decidiu trabalhar uma agenda positiva. Seu governo vem se desdobrando em sucessivas crises políticas e éticas, mas a governadora parece acreditar que o marketing seja capaz de contornar todos os problemas. Seus “fatos relevantes” (notícias positivas do governo dadas às segundas-feiras), contudo, não vem entusiasmando nem seus aliados. Outra de suas medidas, uma nova mudança na equipe de comunicação social na última semana, foi recebida com desconfiança.

Em Brasília, circula pelos corredores do Congresso a avaliação de que Yeda pode se reeleger em função das dificuldades dos adversários. Os que assim pensam, avaliam que a crise mundial pode devastar o governo Lula e junto com ele os candidatos que o apóiam. No caso do Rio Grande Sul, tanto Genro quanto Fogaça seriam afetados por estarem na base do governo.

O político da paz

Fogaça abriu sua campanha com um conjunto de ações. O ex-senador, que foi fiel escudeiro de FHC no Senado, parece pretender uma extensão do marketing que o levou à prefeitura de Porto Alegre para o governo do Estado. Fogaça elegeu-se na capital, depois de 16 anos de domínio do PT, prometendo “ficar o que era bom e mudar o que não era”. Para obter maioria, posicionou-se como um “radical de centro”.

Agora, Fogaça tenta fazer o mesmo em nível estadual. A tese já não é mais manter as conquistas e avançar onde é necessário. Mas o núcleo do marketing é o mesmo. No conflito entre esquerda e direita, o prefeito da capital apresenta-se como o pacificador, o político experimentado e confiável que é capaz de levar os gaúchos a um novo momento.

Quando ainda era professor e músico, Fogaça fez uma canção dedicada a Porto Alegre. “Porto Alegre é demais” quase se tornou um hino da cidade. Intencionalmente ou não, semana passada, no aniversário da cidade, a rede Zaffari de Supermercados na prática lançou um manifesto em favor de Fogaça utilizando sua música. Vale a pena assistir ao comercial. Primeiro pela sua beleza e competência. Segundo porque, enquanto o governo Lula é acusado de usar a máquina pública, bem que Fogaça poderia ser acusado de usar a máquina privada.

Para completar o imbróglio, a primeira dama de Porto Alegre, a cantora Isabela Fogaça, que deveria cantar a música do Prefeito para uma platéia de milhares de pessoas no jogo da seleção brasileira no Estádio Beira Rio, foi vetada pela governadora Yeda Crusius.

Fogaça tomou o veto com uma ofensa pessoal. E não adiantaram explicações de que não teriam partido da governadora as proibições.

A alternativa da esquerda

Tarso Genro apareceu em primeiro lugar nas pesquisas. Olívio Dutra havia retirado seu nome dias antes e o fato de aparecer como o nome mais viável (30% a 27% num empate técnico contra Fogaça) o fortaleceu internamente em seu partido. Mas não o suficiente para impedir o surgimento de outros nomes. Assim como Yeda tem seu vice, Feijó, como uma pedra no sapato e Fogaça luta nos bastidores com o ex-governador Germano Rigotto, Tarso Genro agora terá de enfrentar os defensores da renovação. Uma das correntes internas ao PT lançou o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, candidato a candidato a governador.

Vanazzi promete não ser apenas pedra no sapato. Quer ser candidato. Aposta que Tarso não se viabiliza porque condicionaria sua candidatura à conquista de aliados difíceis, como PTB do senador Sérgio Zambiasi. Neste quadro, Tarso tem duplo desafio: costurar o PT e seu campo político em torno ao seu nome e conquistar aliados com um projeto capaz de tirar o Rio Grande do atoleiro em que se encontra.

Desafio de todos

Este último, aliás, é o desafio de todos os candidatos. O eleitor gaúcho anda em busca de uma nova direção. Tem votado à direita e à esquerda, ou ao centro, sempre em busca de uma saída para a crise do Estado, no quadro da globalização das últimas décadas. Com uma economia voltada para o mercado externo, o Rio Grande do Sul tem tido prejuízos nas últimas décadas.

Neste quadro, Yeda hoje simboliza a guerra permanente, Fogaça simboliza a paz e o ministro Tarso Genro ainda não conseguiu definir-se no cenário. Em qualquer hipótese, a disputa em 2010 será eletrizante.

(*) Publiquei este artigo há alguns dias na Carta Capital. Reproduzo aqui porque ele ficou pouco tempo disponível.

Um comentário:

Ricardo Beck Giuliani disse...

Pelo visto não mudou nada a política gaúcha. Estou estudando no Canadá e acesso seu blog constantemente para ter uma opinião mais completa e, no meu ver, de nível alto. Gosto como comparas os lados e expõe aspectos bons e ruins.

Abraço, Ricardo B. Giuliani.