
Li o Alabarse no meio da semana na Zero Hora. Texto brilhante. Só lamentei que estivesse num tempo errado. Pensei: "O Alabarse devia ter escrito este texto no período do governo Olívio, quando a direita, com total cobertura e incentivo da RBS, promovia uma guerra injusta contra o governo Olívio. Essa guerra do PSOL contra o governo Yeda pode até estar meio errada, mas tem sua razão de existir por causa da gravidade dos fatos..." No momento seguinte, pensei: "Ok. Não se pode exigir tanto de um diretor teatral que se declara a-partidário..."
Mas foi só hoje, sábado, que entendi todo o roteiro. Zero Hora abriu duas páginas nobres no jornal para repercutir a manifestação "poliana" do diretor teatral. Leia-se: para garantir Yeda de pé, Zero Hora constrói a tese de que as denúncias de corrupção contra o governo Yeda são fruto da beligerância da política gaúcha. Não se trata de fatos (afinal, o PSOL não mostrou as provas), mas de posicionamentos radicalizados. A paz no Rio Grande precisa ser realizada e a realidade é a realidade do governo Yeda... Não precisaríamos de mudança, nem de ética, mas de PAZ.
O chamamento à distensão política do diretor teatral, para isso, cai como uma luva. Não estou aqui para apoiar o PSOL. Acho que a política do PSOL é esquerdista, para usar um termo meio fora de moda. Mas fiquei de cara com o Alabarse estar se prestando a esse papel de inocente útil da RBS e da Yeda, logo ele, um diretor de teatro super-competente....
Sou a favor da paz, sim, mas quais seriam os termos do armistício? A paz da RBS é a paz da imposição das privatizações do governo Britto (com pedágios e Detrans como sub-produtos)e do déficit zero do governo Yeda (com o desmonte da segurança, da educação e da saúde, com a ofensa aos direitos do funcionalismo e supostos suicídios de assessores, para dizer o mínimo).
A Zero Hora de sábado, ao invés de buscar a agenda de um possível armistício, na verdade reitera uma política editorial antiga: guerra total contra todos que pretendam buscar uma saída para a crise do Rio Grande que não aquela que o grupo deseja e persegue.
Para uma empresa que trabalha com a informação é impressionante que a RBS ainda não tenha se dado conta de que o mundo mudou e o seu projeto não tem mais lugar nem sentido.