quarta-feira, 27 de maio de 2009

Não era para tanto


Meu artigo sobre os novos cenários para 2010 na política gaúcha parece estar causando frisson. Penso que, com alguma elegância, disse algumas verdades básicas. São verdades apoiadas, por sua vez, em princípios fundamentais. Por exemplo, o princípio de que, na política, o particular deve se subordinar ao geral, o regional ao nacional, o nacional ao internacional etc. Ou ainda, o princípio de que não é suficiente ter uma boa unidade de combate se o seu exército, no geral, é dominado por mercenários e bandidos. Ou, ainda, que um exército que foi glorioso no passado, foi, e pode não ser mais.
Todos são princípios gerais que, quando os aprendi, me foram apresentados como princípios marxistas-leninistas. O espantoso agora é que o senador Pedro Simon estaria sendo mais leninista que muita gente que me julga de direita...
Nessa confusão, alguém postou um comentário no post anterior dizendo que Rigotto foi um governador medíocre. Seria uma apreciação definitiva, mas nada é definitivo na política. Tarso é viável? É. Yeda pode ressurgir das cinzas? Pode. Creio até que a mediocridade de Rigotto como governador é verdadeira, tanto que perdeu para Yeda. Mas deixa eu dizer que no rebaixamento geral em que anda a política gaúcha, o eleitor centauro é capaz de querer dar um segundo tempo pro pessoal da Serra Gaúcha.
Aliás, tenho convicção de que Pepe Vargas, quando não foi capaz de voltar à prefeitura de Caxias ano passado, perdeu a chance de ser alternativa em 2010 pro Estado. Seria uma boa alternativa. É capaz de agora termos outros 4 anos de Rigotto por causa disso.....

terça-feira, 26 de maio de 2009

Sobre os centauros gaúchos


Carlos Soares (casns_rs@yahoo.com.br) postou um comentário, no site da Carta Capital, ao meu artigo abaixo. Como o artigo sumiu da capa do site Carta Capital e depois que isso acontece fica difícil de localizar, tomei a liberdade de copiar o comentário aqui. O raciocínio do Carlos ( que não conheço) é muito interessante. Lá vai:

Partamos de algumas obviedades. O governo Lula, sem ser uma revolução democrática, representa um grande avanço para o Brasil, com nação e como Estado. Equipara-se à obra de Vargas que impulsionou a industrialização do país. O atual governo, longe de ser socialista, estabelece bases para a inserção soberana do Brasil no cenário internacional, a dignificação de suas camadas mais miseráveis e alavanca a sua economia para um ciclo virtuoso: banqueiros, industriais, fazendeiros, agricultores e operários tem obtido vantagens desse movimento. Trata-se de um pacto social liderado pela classe trabalhadora com a consciência que foi construída pela aliança de sindicalistas, CEB's e intelectuais marxistas. Se a consciência é limitada, o mea culpa deveria ser geral. Mas é um avanço em relação ao desmantelamento que vinha sendo feito pelos neoliberais vassalos do capitalismo imperial. Nesse quadro, com correção a direção do PT deve fazer ver aos nobres centauros gaúchos que há a hora de guiar e há hora de deixar-se guiar. A vitória de Dilma e a continuidade do processo de emancipação soberana da república (não dos trabalhadores) é o que se deve buscar hoje. E para isso, setores moderados do PMDB podem sim ser apoiados. Deve-se subordinar os conflitos locais às necessidades do cenário nacional. Como sempre se disse no próprio PT, o importante não é o nome do partido na cabeça, mas estabelecer um programa que aprofunde a democratização da vida e o desenvolvimento da economia, o que não se faz sem distribuição da riqueza e promoção do protagonismo econômico. E que nessa grande aliança democrática pelo desenvolvimento não se esmaguem os pequenos partidos que representam minorias socialistas e comunistas - isso será mais desafiador para o PT que ser vice do PMDB.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Novos cenários na política gaúcha


Querendo ler na Carta Capital, clica aqui. Lá, você também pode postar um comentário.

Pressionada pela dinâmica nacional, a política gaúcha aponta para mudanças radicais no cenário eleitoral de 2010.


Até 30 dias atrás, o Rio Grande do Sul era disputado por três candidatos. Neste final de semana um quarto nome entrou na disputa. O ex-governador Germano Rigotto foi recebido no Congresso Estadual do PMDB aos gritos de “1,2,3, Rigotto outra vez” e declarou-se pronto para concorrer ao Palácio Piratini novamente.

Em fins de abril, Yeda Crusius, pelo PSDB, sinalizava com uma campanha à reeleição. Ainda que tivesse dificuldades, a idéia de que contava com o peso da máquina tornava a atual governadora uma candidata competitiva.

Na oposição, Tarso Genro aparecia em primeiro lugar nas pesquisas. Vencedor em praticamente todos os cenários, o ministro da Justiça contudo parecia não contar ou subestimava as enormes dificuldades dentro de seu próprio partido nos terrenos local e nacional.

Pelo centro, com uma certa inflexão à direita, o atualmente peemedebista José Fogaça, aparecia em segundo lugar, mas como favorito em um provável segundo turno num enfrentamento com Tarso Genro. Prefeito de Porto Alegre, Fogaça já derrotou o PT duas vezes e poderia derrotar de novo diante do ministro da Justiça.

Agora, tudo isso mudou

Hoje, Fogaça já não é mais bola da vez. O prefeito de Porto Alegre foi senador pelo PMDB, liderou o governo Fernando Henrique no senado, elegeu-se prefeito pelo PPS e agora retornou ao PMDB. Parece estar vinculada a isso a percepção de que Fogaça é um pupilo esperto dos tucanos paulistas e isso não é bom para o Rio Grande. O pêndulo dentro do PMDB estaria se voltando para o Germano Rigotto. O ex-governador, que antes vinha dizendo-se candidato ao senado, passou a disputar abertamente o posto de candidato no PMDB. Diante de um Fogaça pró-Serra, um Rigotto pró-Dilma transitaria melhor no paladar dos eleitores gaúchos e acompanharia a maioria do partido no estado, hoje alinhada com o governo Lula.

Tarso Genro, além da contestação de parcela do PT regional que entende ser melhor concorrer com um nome que expresse uma renovação (o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, e o deputado estadual, Adão Villaverde, foram lançados candidatos a candidato numa disputa interna prevista para julho), passou a ser contestado também pela direção nacional do PT. Ricardo Berzoini, presidente nacional da sigla, condenou o PT gaúcho por estar colocando a carreta na frente dos bois: conforme esta visão, a candidatura a governador do Rio Grande do Sul deveria estar subordinada à política de alianças nacional e, inclusive, seria desejável ter um único candidato e um único palanque presidencial em 2010 no Rio Grande do Sul. A conseqüência disso seria concorrer com uma chapa PT-PMDB para o governo do estado no Rio Grande do Sul, não sendo descartada inclusive a hipótese do PT compor com o PMDB na cabeça. Para reagir a essa operação, os petistas lançaram um movimento “Pra Unir o PT e Governar o Rio Grande” de apoio à candidatura de Genro(1).

Já Yeda Crusius, que há trinta dias sonhava com uma reeleição consagradora que viesse a suplantar as inúmeras acusações de caixa 2 em sua campanha e corrupção em seu governo, hoje, aparentemente de forma ainda mais grave que Tarso Genro, não conta mais com o apoio dos dirigentes nacionais de seu partido. Conforme todos os sinais oriundos do terreno nacional, José Serra e os dirigentes do PSDB estariam dispostos e jogar Yeda ao mar, para que ela não atrapalhe a eleição presidencial. Isso acabou ficando tão evidente que a direção nacional do PSDB se viu obrigada a lançar uma nota oficial de apoio à Yeda.

Numa sucessão de episódios político-jornalísticos, Yeda Crusius havia tido duas matérias na Revista Veja revelando “novas denúncias de corrupção” em seu governo e iniciou a semana passada com mais de dois minutos no Jornal Nacional numa matéria que soou quase como um convite para enterro de seu governo(2). Ameaçada por uma possível CPI na Assembleia (faltam 2 assinaturas para atingir o mínimo de 19), por um vice que opera nos bastidores alimentando a oposição com todo tipo de artilharia, Yeda fechou a semana caindo, literalmente, de um palanque de inauguração de uma estrada no interior gaúcho.


PMDB-PT: uma alternativa quase impossível em construção

Neste quadro instável, Germano Rigotto, que há trinta dias aparecia como simples candidato ao senado, hoje parece contar com apoio inclusive do presidente Lula, que estaria por detrás de uma chapa Rigotto governador, Maria do Rosário, deputada do PT, vice. Tarso Genro, de um lado, e Yeda Crusius, de outro, seriam extremos condenados pelas direções nacionais dos dois principais partidos do país, PT e PSDB. E José Fogaça, por sua trajetória partidária instável, também estaria descartado. A bola da vez seria Rigotto, desde que venha a ter o apoio do PT regional.

Isso, entretanto, hoje, é praticamente impossível. O PT gaúcho construiu-se como um partido hegemonista. Governou Porto Alegre por 16 anos e o estado durante 4, tendo crescido de eleição em eleição. Mesmo enfrentando derrotas em Porto Alegre e em centros políticos regionais importantes no interior do estado, o partido soube compensar as perdas conquistando novos espaços. Ser vice do PMDB hoje é quase inimaginável para o PT gaúcho e para o próprio PMDB. Rigotto, numa declaração esta semana disse acreditar haver menos de 1% de chances disso vir a acontecer, mas não descartou a proposta.

Não é desprezível, todavia, a hipótese de uma aliança entre PMDB e PT no Rio Grande do Sul. Os dois partidos reúnem os melhores quadros da política gaúcha. Se a agenda da crise dominar a sucessão de 2010 no Brasil, o mais provável é que Dilma se viabilize no país e, provavelmente, Rigotto acabe se viabilizando no Rio Grande do Sul.

Na virada do milênio, ninguém apostava dois vinténs na vitória de Lula em 2002. Em 2006, ninguém estava procurando por Obama na internet. Lula foi eleito em 2002. Obama foi eleito em 2008. Como dizia alguém, o futebol é uma caixinha de surpresas. E a política é cheia de novidades. /////

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Jornal Nacional diz que o gato subiu no telhado da casa de Yeda Crusius


O Jornal Nacional desta segunda feira anunciou que "novas denúncias complicam a situação de Yeda Crusius". O tom de toda a matéria é de um anúncio para o enterro. Para assistir a matéria, clica aqui.

As "novas" denúncias saíram nos dois últimos finais de semana na revista Veja. Tudo indica que o PSDB, partido de Yeda, com apoio do DEM, partido do vice, Paulo Feijó, está por detrás da operação "VEJA O ENTERRO DE YEDA".

José Serra estaria preocupado em eliminar problemas no caminho da sua candidatura a presidente em 2010. Um deles seria explicar a (des)governadora gaúcha. Tendo chegado à conclusão de que Yeda mais prejudica do que pode vir a auxiliar sua campanha, o tucanato teria "abandonado Yeda à própria sorte", conforme me confidenciou um tucano gaúcho bem informado.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Voltei para dar uma aula na Fabico


Esta semana, voltei à Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS. Estudei jornalismo na Fabico entre 1977 e 1982. Agora, voltei não para estudar mas para dar aula: Tânia Almeida, professora de uma turma de Relações Públicas, me pediu para falar sobre o uso das pesquisas como ferramenta de planejamento na comunicação.

Aproveitei para falar um pouco sobre o marketing e, é claro, sobre o papel das pesquisas e a experiência que temos na agência com pesquisas para empresas privadas e campanhas eleitorais.

Acho que o pessoal gostou. Foram duas horas de conversa e questionamentos. A impressão que passam os jovens hoje é que - em que pese serem menos "politizados" do que éramos nos anos 70 - são mais determinados, mais focados em metas e objetivos.

Taí, gostei de dar aula.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O marqueteiro da Yeda deve estar rindo a essa hora


Em entrevista a Zero Hora no dia 28 de setembro de 2006, o marqueteiro Chico Santa Rita chegou a pedir que os eleitores gaúchos não votassem na candidata que até 15 dias antes propagandeava. Leia abaixo:

“ZH - Quanto lhe devem?

Santa Rita - O contrato é de R$ 700 mil. Recebi várias vezes a promessa de que o pagamento seria feito mais adiante, mas nunca foi efetuado. O valor seria parcelado, não pagaram a primeira parcela (o publicitário não informou o valor). Não se contratam pessoas sem ter um planejamento. Em 30 anos de marketing político, trabalhando em mais de cem campanhas, nunca vi uma irresponsabilidade tão grande.

ZH - Que prejuízo a inadimplência pode trazer para o conceito da campanha da candidata, de implementar "um novo jeito de governar"?

Santa Rita - Contradiz completamente. Ela fala em planejamento, mas onde está o planejamento da própria campanha? Ela dizia que "planejar é lançar uma luz sobre o futuro". A luz que ela lança sobre o futuro está com a lâmpada queimada.

ZH - A coordenação da campanha trata a questão com uma adequação normal de estrutura para racionalizar os gastos.

Santa Rita - Li uma declaração de que campanha é assim mesmo. É assim mesmo na campanha dela, que é campanha absurda, feita sem planejamento, sem respeito humano.”


Relendo a matéria à luz dos acontecimentos e revelações posteriores, Santa Rita parece ter previsto o que está acontecendo - ou talvez tenha até visto algo e tratou de pular fora. A esta altura, Santa Rita já pode apresentar mais um "case" na sua carreira: quando abandonar uma campanha é o melhor que se pode fazer.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Quando a vitória é fraca


Um dos mais graves problemas no marketing é não ter condições de manter o território conquistado. É comum no gerenciamento de marketing de um produto ocupar uma praça e depois, por um motivo ou outro, não conseguir atender o consumidor no ritmo e no prazo exigido. A frustração do consumidor nestas situações é enorme.

Talvez esse se torne o principal fator de decisão na próxima eleição no Rio Grande do Sul. Tem razão o grão tucanato nacional de estar preocupado com o que se passa no pampa gaúcho.

Entretanto, mais preocupado deveria estar o PMDB. Até esta semana, o PMDB só beneficiou-se da relativa incapacidade do PT para reagir e recuperar terreno e da incompetência de Yeda para consolidar a vitória eleitoral que obteve em 2006. Mas a participação do PMDB em todo o governo tucano, o fato de ter respaldado o tempo todo uma fábrica (o governo Yeda) e uma promessa de produto (a sua política) que hoje desagrada a todos pode contaminar a hoje provável vitória de Fogaça e mesmo a eleição de Rigotto ao senado.

Em Canoas, o PTB contava com uma vitória certa com Jurandir Maciel. Maciel, vice-prefeito de Ronchetti, afastava-se deste publicamente e há seis meses do pleito "estava eleito". De fato, ele tinha tudo para ganhar. No meio da disputa, contudo, verificou-se que o vírus tucano tinha contaminado o candidato e ele passou a cair. Jairo Jorge venceu uma eleição que, para muitos petistas inclusive, parecia impossível.

Olhem a foto aí de cima. Restam poucos. Em alguns, a gripe foi mortal. Na fila ainda invisível estão Fogaça, Simon and company. Será que o vírus já pegou neles?

sábado, 9 de maio de 2009

O cérebro político


Acabo de ler O cérebro político, de Drew Westen. O livro, de quase 400 páginas, foi referendado por Bill Clinton e é um amplo balanço das derrotas dos Democratas nos Estados Unidos. O senador Aloizio Mercadante assina uma Apresentação e o deputado federal José Eduardo Cardozo faz o Prefácio da edição brasileira. Mesmo sendo um livro anterior ao fenômeno Obama, vale a pena ser lido. Creio que O cérebro político foi escrito para a campanha de Hilary Clinton e não para a de Barack Obama.
Drew Westen defende a tese de que o eleitor vota mais com sua emoção que com a razão. "A tese central deste livro - a de que campanhas bem sucedidas competem no mercado das emoções e não essencialmente no mercado das idéias - pode, à primeira vista, parecer inquietante para muitos Democratas", afirma Westen na página 261, para, logo a seguir, dizer que o segredo da boa política é dizer a verdade.
Em tempos de crise e confusão ideológica, uma coisa é certa: Westen, na essência, veio a repetir o filósofo Antonio Gramsci (1891-1937), fundador do Partido Comunista Italiano, o primeiro a afirmar que a "verdade é revolucionária".