sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Fogaça é um fazedor de confusão esperto


A campanha de Fogaça à reeleição foi uma aula de marketing bem feito. A começar pelo slogan: A MUDANÇA NÃO PODE PARAR. Numa só frase, Fogaça posicionava-se no vértice entre continuidade e mudança, capitalizando a continuidade diante dos que o aprovavam e acenando com mais mudanças diante dos críticos. E o inverso disso também. A mudança de Fogaça, desde 2004, é uma mudança de sinal trocado, conservadora. Esta é uma mudança com alta audiência na classe média. De lambuja, Fogaça dizia que a cidade não podia voltar atrás, ou seja, não podia retornar à administração do PT, ou, por incrível que pareça, não podia mudar - mudança essa com sinal certo -, ou seja, não podia avançar mais do que avançou nos 16 anos de governos populares em termos de democracia e justiça social.
A campanha de Fogaça conseguiu uma proeza: renovar o seu marketing de 2008, mantendo no governo e na campanha o mesmo posicionamento de 2004. Fogaça em 2004 apresentou-se com um porto-alegrense de classe média, professor, bem sucedido, senador por duas vezes, ficha limpa. Entrou dizendo "fica o que tá bom, muda o que não tá" porque afinal de contas "Porto Alegre é demais". Fogaça em 2004 posicionou-se ao lado da ampla classe média da cidade e ganhou. Fogaça em 2008 posicionou-se de novo ao lado da ampla classe média de Porto Alegre e ganhou. É uma classe média que está sendo seduzida aos poucos pelas "vantagens" que o império do privado sobre o público consegue lhe oferecer.
Algumas cenas: em 2005, puseram um Papai Noel da Coca Cola na Padre Chagas. De lá para cá, permitiram que bares e restaurantes fossem tomando conta das calçadas, invadindo o espaço público. Outro dia passei numa feira de ciências da prefeitura e tinha mais empresas privadas vendendo seus produtos que iniciativas inovadoras. Ante-ontem, garantiram a privatização de um pedaço do Pôr do Sol aprovando os espigões no Portal do Estaleiro Só....
Conclusão: Fogaça é um neoliberal "classe média" que está sabendo atrair os setores médios atendendo alguns desejos privatistas deste segmento (prestar atenção, por exemplo, na saúde - hoje os médicos estão calmos). Talvez tenha sido aí onde o PT mais errou....
Os sintomas disso no plano das idéias é trágico: Fogaça conseguiu apropriar-se da linguagem e dos conceitos construídos pelos setores populares. A começar pelo Orçamento Participativo. Apropriada a linguagem, vem mudando-lhe o conteúdo, invertendo valores, fazendo o contrário do que a palavra diz. É uma técnica que foi desenvolvida em Canoas. Ali, o governo Ronchetti, recém rendido por Jairo Jorge, foi uma "Administração Solidária".
No caso de Fogaça, por exemplo, a palavra mudança significa não-mudança, ou melhor, significa uma mudança para um passado pré-PT, quando os capitalistas mandavam sozinhos na cidade. E a palavra continuidade significa mudança - mudança conservadora, é claro. Parece uma confusão? Pode ter certeza: a confusão é proposital. E é o resultado de uma luta sem quartel pela saída da crise do Rio Grande do Sul e de sua capital. No meio disso tudo, o marketing de Fogaça é esperto e, é preciso reconhecer, muito inteligente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Paulo, tem de mandar estas tuas análises pros "cabeção" do PT lerem. Eles tão precisando e muito.

Patricia Ferreira disse...

concordo plenamente com o anônimo aí...